17 abril, 2010

Clichê

Aparentava ser noite, mas o dia ainda estava na metade da tarde quando Mariana olhou através de todas coisas superficiais das pessoas, a garota olhava diretamente para as pessoas e via o mais puro dos sentimentos correr nas veias das pessoas, ela estranhava aquele sentimento, ela não compreendia corretamente o poder que ele tinha sobre os pobres seres humanos, durante o longo período em que ficou observando as pessoas, Mariana viu um senhor com uma barba por fazer, os olhos azuis que fez ela se lembrar de uma manhã a alguns meses antes daquela tarde, onde ela estava em uma praia com água cristalina, os primeiros raios solares batiam nela e ia fazendo a garota abrir os olhos lentamente, sentia a dor nos braços, aos poucos lembrou-se da noite anterior, de como tinha carregado grande peso com seus esqueléticos braços, a dor que teve que suportar ao ver que o que era até então o homem que ela pretendia construir uma vida com as mãos entrelaçadas nas costas de uma outra qualquer, com os corpos em perfeita sintonia, os dois se beijavam, os lábios do destruidor de corações sugavam delicadamente os lábios grossos, estranhos, sujos, feios e provavelmente com várias doenças que a garota vibrava para que uma por uma pulasse para a boca dele, o peso só ia aumentando, então sem dizer nada andou calmamente até a porta do bar, se retirou educadamente do local, mas não conseguiu evitar as estúpidas lágrimas que já começavam a deixar a vista embaçada, e todo o seu corpo decidiu seguir as rebeldes lágrimas, sem sentir ela resmungava palavras incompreensíveis para qualquer pessoa que não sentisse aquilo que ela estava sentindo, continuava andando até a areia morna de todo calor solar que recebeu durante o decorrer do dia, correu até a beira do vasto mar, se sentou e sem querer acabou deitando, observando a enorme lua que iluminava aquela noite, mas por maior que ela fosse, nunca conseguiria iluminar a escuridão onde Mariana se encontrava naquele momento, e por meio de lágrimas, pensamentos mórbidos e a água batendo algumas perdidas vezes nos pés quando as ondas se atreviam a avançar um pouco o limite estabelecido naquela noite, e ao acordar, ao ver aquele mar que inversamente a como estava na noite anterior, tinha as águas claras, ela passou o olhar lentamente pela água ao se sentar na areia, conseguiu acompanhar por alguns segundos o nadar de um peixe, mas o perdeu de vista pela visão lateral que tinha do sol, levantou um pouco a cabeça e viu que aquela grande bola de luz branca inútil da noite anterior tinha sido despejada e agora aquela luz forte batia dentro dela e a fez, por míseros segundos, voltar a ser quem costumava ser, conseguiu da garota um sorriso torto e graças ao frio e insensível consciente, ela se lembrou do ocorrido na noite anterior, mas após algumas últimas lágrimas, a garota teve forças para se levantar, andou um pouco até a água bater em seus joelhos, deixando ser molhada pelo mar, ela se agachou e molhou delicadamente os braços, se limpando daquela areia da noite anterior, ao se sentir completamente limpa ela saiu da água e se sentou no calçadão na beira da pista e por ali ficou até o entardecer, onde via todas aquelas pessoas felizes e amáveis, e com um pouco de determinação, grande força de vontade e uma certa dosagem de estupidez, a garota por pensamento se levantou e declarou para o mundo:
-Irei ser feliz, independente de o que falem, independente de o que pensem, independente da quantidade de vezes que tentem me fazer infeliz, minha vida é uma causa da qual não abrirei mão.
E então, por assim dizer, finalmente, se levantou verdadeiramente e seguiu caminhando para o pequeno flat onde morava, seguiu seu caminho com o seu típico sorriso torto, e por conseqüência do destino, esbarrou no pobre homem de olhos claros.
-Perdão – disse Mariana rapidamente por impulso.
-Sem problemas, jovem.
As palavras daquele senhor fez com que a garota se sentisse relaxada, algo na voz dela a fazia ver tudo com mais nitidez, e ao retribuir o sorriso que o senhor direcionava para ela, Mariana seguiu seu destino, considerando ser uma garota que fugia do padrão, mal sabendo que fazia parte de um grande clichê da humanidade, garota inocente.