14 novembro, 2010

De vez em quando


De vez em quando eu penso, por alguns instantes, que tudo está bem, mas sou bombardeado de hora em hora por lembranças, pensamentos e recordações. Não, não quero parar de pensar em ti, só quero conseguir me acalmar, quero voltar a ter paz de espírito, eu quero sorrir com sinceridade e não fingir estar tudo bem, quero me sentir do jeito que demonstro estar, eu quero recuperar tudo que perdi, quero ter você de volta para mim, eu preciso, você sabe disso, você sabe.
De vez em quando eu paro, não faço nada, observo o nada, encaro o nada, deixo minhas lágrimas fluírem quando estou com o nada. Desabafo com ele, agarro ele com força, tento imaginar que você é ele, imagino que você está para voltar a qualquer instante.
De vez em quando eu estou sentado, sentado em um carro, e me lembro quando estava sentado em um outro carro, indo em direção da realidade, lágrimas começando a fazer parte de mim, com esperanças que a realidade não fosse tão má, com o desejo de te encontrar, com a vontade de te abraçar, querendo você comigo de um modo que nunca quis, uma vontade de te falar, não importa o que, só falar, falar, saber que você me escuta, que se importa comigo, que me dá atenção, que é minha guardiã, onde estás? quem será minha guardiã agora?

29 outubro, 2010

Encontros

Uns dias atrás conheci uma senhora, ela não me informou seu nome, mas eu não me importo com isso, ela me contou o suficiente para ganhar minha admiração. No dia que eu a conheci, eu chorava, não me recordo o motivo, mas me lembro perfeitamente do olhar dela, olhos escuros, brilhantes, me trasmitiam a paz necessária para aquele momento. Eu não sabia muito bem o que falar, nunca fui muito bom com palavras faladas, ela me olhava de uma forma diferente, me encarava, me observava e me admirava. Teve algo em nosso primeiro encontro que fez com que sentissemos necesidade de nos encontrarmos mais vezes, diariamente, a cada dia nossa relação ia ficando mais intensa, ela sempre me olhava com aqueles grandes olhos que me transmitiam tamanha segurança, eu não me atrevia a falar nada, me arrepiava só de pensar que aquela paz poderia ir embora ao pronunciar qualquer coisa.
Teve uma vez que eu estava deitado, na casa dela e sem perceber adormeci, sonhei que ela me deixava, em meu sonho um homem alto, forte, com uma expressão desumana no rosto se aproximava dela, ela falava com ele normalmente, como se o conhecesse muito bem, como se tivesse um grande carinho por ele, o cumprimentou e o olhou com aqueles olhos tão brilhantes... Não percebeu quando o homem sacou uma pistola 380 da calça e direcionou a monstruosidade metálica para o corpo dela, disparou diversas vezes, continuou encarando os olhos, que iam perdendo o brilho, que derramavam lágrimas, que pediam piedade, que suplicavam compaixão, lentamente o corpo daquela senhora foi se estendendo ao chão e o homem se foi, a deixando estirada no chão, com sangue ao redor, ela no sonho tinha o olhar fixo e a visão que eu tinha era a que ela mantinha o olhar em mim, sem o brilho de sempre, sua boca estava paralizada, mas eu conseguia ouvir sua voz, então percebi que estava acordado, que ela chamava por mim, que estava ao meu lado e que não me deixaria, como instinto, me pronunciei:
-Eu te amo, mamãe.
Com meus pequenos braços, a aguarrei pelo pescoço e não soltei até conseguir adormecer novamente, sentindo a respiração dela, com as mãos dela massageando meu cabelo e com aqueles olhos me admirando.

07 outubro, 2010

"Obrigada por serem meus filhos"



Meus filhos,

Cada ano que passa admiro mais vocês: por suas posturas, por causa dos belos homens que estão se tornando, por tudo que vocês são, principalmente ouvintes, amigos e companheiros. Tenham a plena certeza de que vocês são muito amados e principalmente respeitados. Se tristezas acontecerem no decorrer de seus caminhos, continuem o grande desafio que é viver! Eu amo vocês, obrigada por existirem na minha vida!

Fátima Barbosa.


É com tais palavras amorosas que me contento. Não tenho mais direito a abraços, beijos, cheiros, gargalhadas, mãos dadas e muito menos o direito de te olhar nos olhos. Direitos foram tomados de mim, tomados na hora errada, na hora que mais precisava de todo seu apoio. Quanta falta de elegância daquele homem de coração tão amargo. Já se passaram várias semanas, mas ainda me pego sorrindo ao olhar teu sorriso estampado na foto, nem percebo as lágrimas que de tanto pedirem, permiti que entrassem em minha rotina. Foram dias difíceis, para ser sincero, ainda são bastante complicados de superar, é fácil de se falar no decorrer do dia, mas não há nada mais barulhento que os meus pensamentos no silêncio do quarto onde tento adormecer, não há nada mais doloroso que não ouvir resposta ao sussurrar para sua imagem que eu te amo, não há nada mais enlouquecedor que a ideia de perder quem me fez ser quem eu sou, ter que fazer dessa ideia uma realidade é indescritível, é algo que ainda não aprendi a verbalizar.
Eu me recordo com clareza aquele tempo em que madrugávamos no quarto, vendo aqueles filmes de drama que tanto gostavas, dos almoços de domingo em que se tinha aquele macarrão com um molho que só você sabia fazer, de quando morava com meu pai e passavas lá apenas para me dar um abraço, de como eu passava a mão por seu cabelo enquanto você dirigia. Eu escrevo aqui para tentar exorcizar toda essa dor que tenho carregado, as vezes me pergunto como estarei daqui a um ano, penso em 2011, estarei em uma faculdade, mas ao pensar nisso, penso que você não vai estar lá para comemorar comigo essa vitória, mas você me dizia que iríamos comemorar juntos, cadê você? Você me disse que estaria lá, você... É lógico que você estará lá, estará em meus pensamentos, mas, poxa, isso não é suficiente, nunca será.
Uma coisa que sempre achei bem ridícula sobre pessoas que perderam pessoas queridas é que sempre ao falar sobre a pessoa falecida, enfatizam as qualidades e apagam os defeitos, eu nunca compreendi direito, mas agora eu acho que entendo, ao pensar na minha mãe, não me vem a cabeça nada de ruim sobre ela, até os defeitos se tornam qualidades, pois sinto falta dela por inteira, até as brigas, os gritos, as palavras que não deviam ser ditas fazem falta. Nem adianta falar sobre arrependimentos, são incontáveis, mas o que me conforta e que tenho conhecimento que caso tivesse feito o que queria ter feito, ainda existiria outras coisas que desejaria ter feito.
Levei pouco mais de um mês para criar coragem de escrever sobre isso de uma forma mais racional, mas isso não mudou nada, eu continuo aqui, sentindo esse vazio e essa dor já virou amiga de tanta intimidade já existente, eu li este texto várias vezes pensando em como terminá-lo, mas acho que a forma mais sincera e crua de terminar isso é dizendo tudo que digo toda noite enquanto meus pensamentos não me deixam repousar: Eu te amo, eu preciso de você, volta, eu te amo, eu te amo, muito, muito...

Carta



A tragédia bateu à porta de Paulo Sousa Costa, conhecido produtor de espectáculos e namorado de Carla Matadinho. O seu filho Paulo, de 7 anos, mais conhecido entre os amigos pelo nome de Paulinho, faleceu subitamente, vítima de uma leucemia rara. Uma semana depois, no passado dia 28 de Setembro, dia em que o seu filho faria anos, este pai destroçado, escreveu uma carta ao seu filho.

A seguir, leia a carta na íntegra:

"A opção desistir de mim... e de ti!

Querido Dragãozinho Azul (mais à frente vais perceber porque te estou a chamar assim...), sim, estou a chorar a tua partida, mas repara que tenho feito tudo para enfrentar a maior perda da minha vida, com a força e a coragem que sempre te tentei passar! Sei que estarás muito orgulhoso dos teus papás pela forma como têm lutado, desde o primeiro segundo em que entraste no hospital...

Tudo o que fizemos até aqui foi decidido e feito em conjunto, pelo amor que temos por ti. A tua mamã e eu chorámos abraçados a tua notícia, entrámos de mãos dadas no crematório e foi agarradinhos um ao outro que te deixámos no mar. Ao som da tua música preferida "No One" da Alicia Keys, juntos tocámos nas tuas cinzas e nos despedimos de ti.

Gostava muito de te poder dizer que a dor tem sido amenizada com o passar dos dias, gostava de poder dizer que tenho tido mais força com o passar do tempo... mas estaria a mentir. E entre nós nunca houve mentiras, a nossa linda cumplicidade não permitia isso!

Vivo um segundo de cada vez sem saber como vou estar no segundo a seguir. A minha vida deixou de ter dias, passei a ter apenas um aglomerado de segundos sem nunca saber o que irá acontecer no segundo seguinte... Luto para manter a vontade de viver, na certeza que já não tenho prazer em viver!

Tenho-me lembrado muitas vezes da frase que tantas vezes te disse nas tuas corridas de karts "Desistir não é uma opção!". Quantas vezes te disse isso ao longo da vida, fosse a montar um lego, fosse a fazer os trabalhos de casa, fosse a trepar uma árvore mais alta? Nunca te deixei desistir, porque nunca fora uma opção de quem quer ser homem com H, como tu sempre quiseste ser!

Naquela cama do hospital, durante mais de 14 horas, pedi-te ao ouvido, milhares de vezes, para não desistires!!! Mas tu não conseguiste resistir.

Não querido, não estou por isso desiludido, porque sei que não desististe. Apenas estou revoltado porque não te foi dada hipótese para lutares mais!

Agora passo os dias a lutar também para não desistir e digo vezes sem conta "Desistir não é uma opção! Desistir não é uma opção!". Adorava conseguir acreditar nisto com a mesma intensidade de quando te o dizia...

Acho que a única forma que para já encontrei para não desistir foi tentar ultrapassar uma barreira por dia. Todos os dias tenho uma meta a cumprir. Hoje já consigo entrar no teu quartinho. Hoje já consigo olhar para as tuas fotos. Já tive forças para tirar a tua cadeirinha do carro...

A barreira que decidi ultrapassar no dia de hoje é ter tido a coragem de te escrever esta carta, no dia em que farias 7 anos!

Mas faltam-me muitas outras barreiras para as quais vou precisar da força que só tu tinhas o poder de me dar. Sei que sempre fui uma pessoa forte nas maiores adversidades, mas, querido, todo o homem tem o seu tendão de Aquiles. E eu, apesar de desde o primeiro momento em que tudo isto aconteceu andar a fazer de Super Homem, sinto, a cada dia que passa, que a tua ausência é a kriptonite que me retirou os meus "super poderes"!

Tenho a consciência que tenho sido um felizardo em termos de apoio. Não há um dia que não tenha dezenas de chamadas, mensagens e mesmo abordagens na rua de pessoas amigas ou desconhecidas que nos querem bem. Desde o primeiro dia recebemos centenas e centenas de mensagens!

Até o nosso Presidente Pinto da Costa nos enviou uma carta a dar-nos força, onde te chamou "Dragãozinho Paulo" (agora já percebeste porque comecei esta carta a chamar-te Dragãozinho Azul...). Já falámos por telefone e disse-lhe que foste cremado com o teu boneco com que dormias sempre, com o teu livro de histórias preferido e... com um cachecol do F. C. Porto!

A Carla, a nossa Carlinha não me tem largado um segundo! Nem a dormir me larga a mão. Gostava de lhe retribuir a força que me tem passado com pequenos gestos de carinho, mas neste momento apenas sinto um vazio dentro de mim e não consigo ser quem sempre fui. Resta-me a certeza de saber que ultrapassar esta fase sem ela seria, muito provavelmente, impossível! Espero que todos os homens que passem por isto tenham ao seu lado uma mulher como a Carla!

Tenho lido todas as centenas e centenas de mensagens que recebi, nelas tenho conseguido encontrar a energia para o segundo seguinte. É impressionante a quantidade de pais que já viveram este pesadelo. Andes por onde andares, sempre que encontrares uma criança, dá-lhe um beijinho e diz-lhes a todos que têm uns papás muito corajosos cá em baixo!

Todas as pessoas me têm dito, sem excepção, que foste para o Céu. Quero acreditar nisso mas o meu amor de pai ainda não me permite pensar/aceitar para onde foste, apenas consigo pensar/chorar onde não estás... ao meu lado! Todos me dizem que agora temos um anjinho no Céu a olhar por nós, mas eu preferia mil vezes o meu diabinho de caracóis na terra!

Recebi ainda mensagens a dizer que tenho sido uma inspiração para os pais deste país... fico lisonjeado, mas na verdade apenas quis ser uma inspiração para ti meu filho, em vida! Espero continuar a sê-lo! Sei que fui um privilegiado por ter tido o prazer de ter-te como filho. Espero que leves contigo a alegria de me teres tido como papá!

Paulinho, meu amor, não sei quando nem onde nos vamos voltar a encontrar, mas prometo que vou tentar continuar a colar os meus segundos, como se fossem os teus. Quero e vou continuar a sofrer-te para sempre, até porque, no dia que deixasse de o fazer estaria a esquecer-me de ti e isso é impossível! Mas espero que um dia possa voltar a encontrar a alegria de viver, que sempre nos caracterizou aos dois. No dia em que partiste não levaste apenas o teu sorriso... levaste o meu também!

Mas sinto que se desistir de mim, estarei a desistir de ti... E como sempre te disse, "Desistir não é uma opção!".

Amo-te MUITO!
Papá

Ps. Não fiques triste por não estares cá no dia de hoje. Vamos fazer na mesma um jantar de aniversário com todos os nossos amigos e, claro, com a tua mamã. Hoje e sempre vamos estar a pensar em ti!"

20 julho, 2010

Dedicatórias

Eu sinto falta de o que nós costumávamos ser, nós mudamos tanto, não consigo reconhecer o ser que nos tornamos, isso não é o que nós planejamos, eu não sou mais eu mesmo, você abandonou, eu abandonei, mas agora tentamos consertar, fixar, grudar, mas isso não está certo, não é assim que as coisas devem ocorrer, não é dessa forma que nós devemos acabar, não é assim, não é. O silêncio é tão relativo, nós costumávamos ficar em silêncio enquanto nossas mãos se cruzavam e nossos olhos repetiam o mesmo gesto, hoje estamos aqui, sentados, um em cada extensão do sofá, nossos olhares cruzados, mas com um tom diferente, nós sabemos que tudo está arruinado, não queremos assumir, não queremos aceitar. Eu odeio noites assim.

19 julho, 2010

Não eu mesmo

Eu não sei escrever, mas escrevo para tentar me livrar de tantos pensamentos que acabam me deixando confuso, mas os textos não me ajudam, eles não esvaziam minha cabeça, os pensamentos nunca se vão, permanecem, me consomem, me corroem e me destroem. No momento não sei dizer quem exatamente sou, peço perdão por tal desventura, mas não é minha escolha, não tenho como mandar isto embora, acabo colocando de lado, seguindo em frente, mas continua aqui, nunca se vai, nunca.

Briga interna.

Ei! Olha só o que está vindo, é uma nova onda de alegria, ela vem com tudo e aparenta ser o suficiente para todos! Podemos finalmente dizer adeus para toda a guerra e toda ignorância que nos acompanha já tem milhões de anos. Finalmente vamos mudar, vamos inovar, vamos parar de renovar. Aperto de mãos, risos descontrolados, sons desconhecidos. Lágrimas, lágrimas rolam desesperadamente pelo rosto, elas anunciam a chegada pelo lado oposto, correndo, voando, vem se aproximando, não se consegue entender, mas finalmente se consegue ver que ela sempre esteve ali, nós não somos mais os mesmos que eramos, por favor, não vão embora, nós precisamos um dos outros, batidas, toques, calor, é tudo tão estranho, sem pontos, virgulas tomam conta das nossas vidas, eu me lembro de você, acabaste indo embora, outros foram com você, era cedo demais, não era a hora. Todo dia é uma pessoa diferente, a pessoa errada, a pessoa errata, mas foi embora, cedo demais e isso mudou com a continuidade do meu ser, do meu trabalho e de meus amigos, eu me lembro de você em dias assim, nas madrugadas perdidas onde me perco no meio da brisa que vem com os anjos e passam sem me ver, até a próxima vez. É tão estranho, não se consegue identificar, não, não, não, NÃO! Não se consegue, não se pode, não se admite, não pode ter sido tão cedo, cedo demais. Aprendendo a ter tudo que sempre se quis, eu tive o meu começo feliz, mas onde se está o final? Qual o motivo de serem tão antônimos? Qual o sentido? Lembro da tarde, mas não é sempre, você está ali, eu estou aqui, olhares se cruzam, você me manda aquele sorriso torto, mostrando-me seus dentes brancos, no mesmo momento a lágrima se encontra em sua face, você se vira, se vira. Revira e corre para mim, pula em meus braços e me dá um beijo no meio dos tantos outros que se seguiram, antõnimos se tornam sinônimos, ou algo do tipo.

17 junho, 2010

Relatividade

Era um domingo, no interior, na fazenda, as crianças, elas decidiram brincar, explorar, pesquisar aquele lugar, como faziam toda vez que iam para lá, decidiram brincar de se dividirem em duplas e quem conseguisse achar mais coisas daquilo que tinham definido antes da brincadeira iniciar, ganharia. Naquele domingo eles decidiram que iriam procurar restos dos corpos dos animais que viveram ali muitos anos atrás, tomaram a iniciativa após a avó contar uma lenda para eles, uma lenda que dizia que naquela fazenda, muitos anos atrás, se tinha criação de vários animais não naturais do Brasil, que ali era o único lugar onde podia se encontrar tais animais no Brasil. As crianças envolvidas com a história, foram adentrando os altos matos que cobriam a fazenda, no meio das crianças se encontrava Luiz e Ana, eles eram uma das duplas e foram seguindo pelo lado leste da fazenda. Já tinham se passado trinta minutos que a busca tinha começado e eles só caminhavam, sem encontrar o corpo de nenhum animal, já estavam quase desistindo quando Luiz chutou sem querer um pequeno dado onde se via o número 1 para cima, Ana por instinto agarrou o braço do garoto sem identificar que era um dado, o mesmo ao colidir com o pé do garoto, girou e o número 5 apareceu em sua superficie, os garotos se olharam e ao olharem novamente para frente, havia uma mistura de cores, a paisagem da fazenda se misturava com um mundo bem mais escuro, onde todas as plantações da fazenda estavam destruídas e alguns segundos após a mistura de cores passou e o mundo escuro reinou sobre a visão dos garotos, a única coisa que continuava intocável era o dado.
- Onde nós estamos? Ainda estamos na fazenda? - Perguntou Ana com a voz fraca que transimitia o medo que sentia naquele momento.
- Ainda estamos na fazenda, olhe o matadouro ali - Disse Luiz apontando para o horizonte onde era possível se ver uma edificação pequena e simples onde costumavam matar os animais - Só está... Diferente.
Os dois ficaram ali, parados por alguns longos segundos, até Luiz tomar iniciativa e seguir andando, Ana o seguiu e após breves segundos eles encontraram uma área que até então era desconhecida para eles, se tinha uma piscina com a água mais transparente que eles já viram, com várias manchas pretas dentro dela, a piscina era enorme, ao redor dela se tinha uma parede de pequenas arvores onde tais manchas pretas se encontravam também, um pouco mais nitidas. Luiz e Ana correram ao redor daquele lugar, Luiz agarrou uma das manchas e puxou para fora da moita de arvores que escondia, ao puxar, ele percebeu que era o resto do corpo de uma pequena girafa, tinha em média dois metros de altura apenas, o corpo não estava nojento nem fedorento, estava apenas preto e extremamente leve. Ana ao ver que as manchas eram apenas corpos de girafas, foi puxando todas as outras manchas pretas, juntando no total dezesseis corpos que foram deixados em um canto. Os dois se reuniram na borda da piscina, tentando decifrar como iriam pegar os corpos que estavam no fundo da piscina que aparentava ser imensamente profunda, Ana enquanto pensava em uma resposta, colocou os pés na água, no mesmo momento ela sentiu um grande icomodo na perda, sentiu ela se esticar, não chegava a ser dor, mas não era nada agradável aquela sensação, levaram alguns segundos até ela sentir seus pés tocando no chão, se levanto e ficou do mesmo tamanho que ficaria se estivesse do lado de fora da água, com suas longas pernas, andou ao redor da piscina.
- Ei! Espera, tive uma ideia!
Luiz antes mesmo de explicar qual tinha sido a sua ideia, colocou os dois braços dentro da água e soltou um grito que misturava alegria, medo e animação em apenas um fonema. Ele foi passando a mão pelo fundo da piscina e foi tirando todos os corpos existentes no fundo dela com a ajuda de Ana que ia chutando os corpos que a mão dele não conseguia pegar. Luiz sempre dava uma enorme gargalhada ao retirar o braço da água e ver ele voltar ao tamanho normal rapidamente.
Ao terminar de retirar todos os corpos, se encontrava dezenas de corpos do lado externo da piscina, entre eles se tinha mais algumas girafas, corpos de cobras gigantes, encontraram até corpos de seres que eles nunca tinham visto, quadrupedes com asas e um bico longo como o de um tucano. Os garotos organizaram todos os corpos e os carregaram de volta até o dado, alguns cairam durante o caminho e os meninos tinham que parar para pegá-lo. Ao chegar no dado, Luiz soltou os corpos, girou o dado até o número um ficar para cima novamente e o colocou no chão novamente, rapidamente agarrou os corpos de animais e no mesmo instante já estavam de volta, Luiz se abaixou e guardou o dado no bolso, sorrindo. De longe já se via todas as crianças reunindo-se com a avó para ver o que cada um tinha conseguido, Luiz e Ana foram andando devagar, carregando as dezenas de corpos, a avó olhava estarrecida para eles, Luiz e Ana se perguntavam se eles mesmo tão longe já conseguiam ver o que era que eles carregavam, Ana virou para Luiz e disse calmamente:
- O que nós vamos dizer para eles?
- Sobre o que?
- Sobre todos esses corpos, como vamos explicar o que aconteceu?
- Diremos que fomos pelo caminho certo e eles pelo errado, só isso.
- Você acha que eles vão acreditar?
- Como assim? Essa é a verdade, não é?
Luiz sorria abertamente enquanto caminhava até os amigos e a avó, fazia um belo dia, o sol desfilava pelo céu, quebrando o frio daquela temporada.

13 junho, 2010

Anormalidades normais

Já faz algumas semanas, talvez apenas dias, não sei como definir o tempo, acho que perdi tal noção, perdi o rumo da história, olho ao redor e vejo insanidades, vejo atrocidades, vejo um mundo irracional, procuro desesperadamente alguém igual a mim, alguém considerado anormal, alguém normal no qual a sociedade acaba por estereotipar que sou anormal, sendo eles os anormais no fim? Como posso aceitar que me digam como me vestir, o que ouvir e o que querer/ Como posso continuar vivendo desta forma? Como vocês, anormais, conseguem manter os olhos fechados por tanto tempo, com tanto medo? Vocês não sentem a curiosidade de ver o que há além do que é dado para vocês? Perdão se com tais palavras machuco algum de vocês, não é do meu feitio, mas vocês costumam fazer isso tantas vezes que talvez seja até agradável para minha pessoa ver vocês tomando do própio veneno, quem sabe assim, voltaremos a viver vidas dignas de seriedade, quem sabe assim, voltaremos a normalidade. Vocês são tão malvados, acabam tornando a tarefa de odiar vocês mais fácil para mim, coisas estúpidas explodem da boca de vocês, mas tudo bem, não posso falar muito desde defeito, peguei tal vício com vocês, mas em relação a dor... A dor que vocês causam um aos outros, isso não dá para se aceitar, me deixa deprimido, me dá uma angustia inexplicável, isso é anormal, mas para vocês, talvez, isso já seja algo normal.

Desconhecimento do conhecido

Quem pode afirmar que algo é ou não é real? Quem se atreverá a me dizer que minha imaginação não é real? Para mim meus monstros amigáveis são bem mais reais que certas coisas sólidas e concretas nesta dimensão. O real é relativo, como tudo que existe, ou não existe. Tudo que vivemos é real, todas nossas lembranças, todos nossos temores também são reais, todos nossos sentimentos que vão nos matando pelas beiradas, tudo isso é real... O amor, seria ele, algo real? Eu afirmo que o amor é real, mas não tenho certeza, quando o ódio me consome por dentro, vejo o amor se desfazer rapidamente, mas a morte... Várias pessoas não gostam da morte, e sendo sincero, ainda não aprendi como a aceitar passivamente, mas se pararmos para pensar, não existe um "aqui e agora", só existe as lembranças de o que passou e a torcida que o que ainda vai passar, seja tão agradável como aquilo que já se foi, a morte não é ir embora, é apenas seguir a diante, deixa para lá... Não importa para onde os mortos foram, onde eles nos esperam, isso é só uma parte de um todo que sempre será desconhecido por nós, seres ainda vivos, seres que nos auto denominamos de racionais, seres com suas dúvidas cruéis, seres humanos, somo nós, mortais, mesquinhos e que não conseguem compreender que o mais importante da vida é aqueles que estão ao nosso redor, ninguém consegue nada sozinho, todos precisam de todos, ao seu redor, para se lembrar de o que passou, para se esquecer de o que passou... nós nunca estaremos indo embora, estaremos seguindo em frente, sempre... para um lugar, que um dia, todos nós iremos descobrir.

01 junho, 2010

Dúvidas

Qual o sentido de tudo isso? Onde isso me levará? Onde isso TE levará? Qual o ponto de chegada? Onde foi que largamos? Porque alguns largam na frente? Porque certas coisas não causam hemorragias, mas doem muito mais que uma? Porque eu não consigo definir o medo? Porque eu tenho que acreditar em o que é me dito? Será que sou parcialmente louco? Será que sou e não passarei de apenas mais um? Quem disse que era necessário pensar antes de agir? Onde eu vou achar o ifinito? Porque sou tão dependente? De onde vem todas as minhas dúvidas? Algum dia alguém as responderá para mim? Eu não sei quanto tempo aguentarei. Quantas perguntas a mais eu aguentarei? Quantos amigos a mais consiguirei? Quanta felicidade ira me satisfazer? Quanto rancor terei que passar? Quando que vão me ensinar a voar? Eu quero aprender; Eu quero descobrir; Eu que conhecer; Eu não quero ficar aqui,alguém me leva daqui, alguém me estende uma mão, eu imploro, alguém me ajuda a descansar, alguém me ajuda na minha jornada, minha mísera jornada. Quem saberá a minha história? Onde eu vou repousar? Com quem vou repousar? Não dá para aguentar, alguém poderia me mostra a bola de cristal? Por favor.

17 maio, 2010

Dias, apenas sorria.

Ultimamente tenho me sentido estranho, não sinto tanto animo de fazer as coisas como sentia antes, não costumo mais nem escrever! Não me sinto com capacidade de fazer textos como os que eu costumava fazer, o que vem acontecendo comigo? São tantas mudanças, mudança de casa, mudança de família, mudança de escola, mudança de amigos, eu sou tão fraco com tais coisas, e com sinceridade, tenho que dar certo foco para os amigos, sempre foram minha maior fraqueza, a cada mudança de colégio, a cada mudança de turma, sempre sofri muito com isso durante toda a infância, mudei de colégio diversas vezes, e dentro dos colégios, mudei muito de turmas também, e o cotidiano foi mudando, as amizades, infelizmente, também, mas sem mais dramas, ainda tenho os mesmos amigos que tinha ano passado, mas tem que se levar em conta a distância, não tenho como ter a mesma convivência... Porque me sinto tão mal? eles vão estar lá me esperando, é apenas esse ano, logo passará, próximo ano estarei cursando a Universidade Federal de Pernambuco, com o tão sonhado curso de Jornalismo, ou estarei fazendo Psicologia na UPE? Que tipo de texto estou fazendo? não sou de fazer textos deste formato, neste estilo... Não sei como, nem quando, mas eu sinto as mudanças, eu sinto o tempo passar por mim, sinto os olhares ao meu redor, sinto aquilo que tentei evitar durante alguns anos, porque as coisas vão acontecendo dessa forma? Nada vai como planejei. Eu costumo sorrir, costumo fazer os outros rirem, costumo manter o auto-estima externo sempre no topo, costumo ser aquele com um sorriso colado ao rosto, não costumo ser o mesmo que sou quando realmente sou aquele que realmente sou, nem meus mais próximos amigos sabem de tais sentimentos, não saberia expressar tais. Já se passaram quatro meses, não está tão longe, mas eu sei, eu sei que isso nunca acabará, eu sei que posso não acabar bem em essa estrada, mas na mesma estrada se encontra a luz que sempre procurei, necessito da oportunidade, tem sido uma longa jornada, mas eu sei que ela nunca acabará. Então repasso novamente tudo pela minha cabeça, suspiro, deixo as lágrimas no travesseiro traiçoeiro, me levanto, me banho, me visto, me preparo, mais um dia, apenas outro dia.

17 abril, 2010

Clichê

Aparentava ser noite, mas o dia ainda estava na metade da tarde quando Mariana olhou através de todas coisas superficiais das pessoas, a garota olhava diretamente para as pessoas e via o mais puro dos sentimentos correr nas veias das pessoas, ela estranhava aquele sentimento, ela não compreendia corretamente o poder que ele tinha sobre os pobres seres humanos, durante o longo período em que ficou observando as pessoas, Mariana viu um senhor com uma barba por fazer, os olhos azuis que fez ela se lembrar de uma manhã a alguns meses antes daquela tarde, onde ela estava em uma praia com água cristalina, os primeiros raios solares batiam nela e ia fazendo a garota abrir os olhos lentamente, sentia a dor nos braços, aos poucos lembrou-se da noite anterior, de como tinha carregado grande peso com seus esqueléticos braços, a dor que teve que suportar ao ver que o que era até então o homem que ela pretendia construir uma vida com as mãos entrelaçadas nas costas de uma outra qualquer, com os corpos em perfeita sintonia, os dois se beijavam, os lábios do destruidor de corações sugavam delicadamente os lábios grossos, estranhos, sujos, feios e provavelmente com várias doenças que a garota vibrava para que uma por uma pulasse para a boca dele, o peso só ia aumentando, então sem dizer nada andou calmamente até a porta do bar, se retirou educadamente do local, mas não conseguiu evitar as estúpidas lágrimas que já começavam a deixar a vista embaçada, e todo o seu corpo decidiu seguir as rebeldes lágrimas, sem sentir ela resmungava palavras incompreensíveis para qualquer pessoa que não sentisse aquilo que ela estava sentindo, continuava andando até a areia morna de todo calor solar que recebeu durante o decorrer do dia, correu até a beira do vasto mar, se sentou e sem querer acabou deitando, observando a enorme lua que iluminava aquela noite, mas por maior que ela fosse, nunca conseguiria iluminar a escuridão onde Mariana se encontrava naquele momento, e por meio de lágrimas, pensamentos mórbidos e a água batendo algumas perdidas vezes nos pés quando as ondas se atreviam a avançar um pouco o limite estabelecido naquela noite, e ao acordar, ao ver aquele mar que inversamente a como estava na noite anterior, tinha as águas claras, ela passou o olhar lentamente pela água ao se sentar na areia, conseguiu acompanhar por alguns segundos o nadar de um peixe, mas o perdeu de vista pela visão lateral que tinha do sol, levantou um pouco a cabeça e viu que aquela grande bola de luz branca inútil da noite anterior tinha sido despejada e agora aquela luz forte batia dentro dela e a fez, por míseros segundos, voltar a ser quem costumava ser, conseguiu da garota um sorriso torto e graças ao frio e insensível consciente, ela se lembrou do ocorrido na noite anterior, mas após algumas últimas lágrimas, a garota teve forças para se levantar, andou um pouco até a água bater em seus joelhos, deixando ser molhada pelo mar, ela se agachou e molhou delicadamente os braços, se limpando daquela areia da noite anterior, ao se sentir completamente limpa ela saiu da água e se sentou no calçadão na beira da pista e por ali ficou até o entardecer, onde via todas aquelas pessoas felizes e amáveis, e com um pouco de determinação, grande força de vontade e uma certa dosagem de estupidez, a garota por pensamento se levantou e declarou para o mundo:
-Irei ser feliz, independente de o que falem, independente de o que pensem, independente da quantidade de vezes que tentem me fazer infeliz, minha vida é uma causa da qual não abrirei mão.
E então, por assim dizer, finalmente, se levantou verdadeiramente e seguiu caminhando para o pequeno flat onde morava, seguiu seu caminho com o seu típico sorriso torto, e por conseqüência do destino, esbarrou no pobre homem de olhos claros.
-Perdão – disse Mariana rapidamente por impulso.
-Sem problemas, jovem.
As palavras daquele senhor fez com que a garota se sentisse relaxada, algo na voz dela a fazia ver tudo com mais nitidez, e ao retribuir o sorriso que o senhor direcionava para ela, Mariana seguiu seu destino, considerando ser uma garota que fugia do padrão, mal sabendo que fazia parte de um grande clichê da humanidade, garota inocente.