06 dezembro, 2011

Trechos de Ratos e Homens

"-A gente não vai jantá?
-Claro que vai, se ocê fô buscá uns galho seco de salgueiro. Tenho treis lata de fejão na minha troxa. Ocê arruma o fogo. Eu te dô um fósfro quando a madeira tivé pronta. Daí a gente isquenta o fejão e janta.
-Eu gosto de comê fejão com molho de tomate.
-Bom, a gente num tem molho de tomate nenhum.[...] Ocê sempre qué tudo que a gente num tem. Pelo amor de Deus, se eu tivesse sozinho, ia consegui vivê bem fácil. Ia arrumá um emprego e trabaiá, sem problema nenhum. Nenhuma confusão, e quando fosse fim do meis, eu ia podê pegá meus cinquenta pau e ir pra cidade e comprar tudo que eu queria, mas o que eu tenho? Eu tenho ocê! Ocê num consegue ficá em emprego nenhum, Só me faiz ficá andando de cima pra baixo sem pará. Ocê se mete em confusão, faiz umas coisas ruim e eu tenho que livra sua cara.
-George, eu só tava brincando. Num quero molho de tomate nenhum. Se tivesse um pote bem aqui do meu laado, eu ia dexá tudo pr'ocê.
-Quando eu fico pensando em tudo de bom que eu ia podê fazê se num tivesse ocê cumigo, eu fico loco. Nunca tenho paz.
-George, ocê qué que eu vô imbora e deixo ocê em paz? Eu ia. Eu ia achá uma coisa. Se ocê num qué sabê de mim, posso ir pras montanha ali. Pr'algum lugá onde desse pra achá uma caverna."

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"-Uns sujeito que nem a gente, que trabaia nas fazenda, é os sujeito mais sozinho do mundo. Essa gente num tem família. Essa gente num pertence a lugá nenhum. Eles vai até uma fazenda e trabaia pra ganhá um dinhero e daí vai pra cidade gastá o dinheiro, e logo já tá lá, arrastando o rabo em otra fazenda. Essa gente num tem nada que esperá do futuro. Com a gente, num é assim. A gente tem alguém com quem conversá, alguém que se importa co'a gente. A gente num precisa ficá sentado em bar nenhum gastando o nosso dinhero só porque não tem otro lugá pra ir. Se um desses sujeito vai pra cadeia, pode apodrecê lá que ninguém tá nem aí. Mas co'a gente é diferente.
Lennie interrompeu:
-Mas isso num vai acontecê co'a gente! E por quê? Porque... porque eu tenho ocê pra cuidá de mim, e ocê tem eu pra cuidá d'ocê, e é por isso - riu de tanta alegria - Agora pode continuá, George.
-Ocê já decorô. Pode continuá sozinho.
-Nada disso, ocê é que sabe contá. Eu isqueço umas coisa. Conta como é que vai sê.
-Tudo bem. Um dia desse... a gente vai juntá um dinheiro e vai comprá uma casinha e uns alquere de terra e uma vaca e uns porco e...
-E vai vivê da terra! - Lennie exclamou. - E vai tê coelho. Vai, George! Conta do que a gente vai tê no jardim e dos coelho nas gaiola e da chuva no inverno e do fogão, e da nata do leite que é tão grossa que a gente nem consegue cortá. Conta essas coisa, George."

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