11 agosto, 2011

Trechos de "Não hã silêncio que não termine"

"Eu não tinha vontade de chorar. Não era orgulho. Era só um desprezo necessário, para comprovar que a crueldade daqueles homens e o prazer que tiveram disso não haviam estragado minha natureza, porque não tinham atingido minha alma.
Sabia que, de certa forma, ganhara mais do que perdera. Não tinham conseguido me transformar num monstro sedento de vingança. Esperei que o mal físico se manifestasse no repouso e me preparei para o aparecimento dos tormentos do espírito. Mas já sabia que tinha a capacidade de me libertar do ódio e vi naquele exercício minha apreciável conquista."

-----------------------------------------------------

"Fechei os olhos antes que caísse a noite, mal respirando, na esperança de ver diminuir o sofrimento, a angústia, a solidão e o desespero. Durante as horas dessa noite sem sono e os dias que se seguiram, todo o meu ser iniciou o curioso caminho da hibernação da alma e do corpo, esperando a liberdade como se fosse a primavera.
O dia seguinte chegou, como todas as manhãs e todos os anos de toda a minha vida. Mas eu estava morta. Tentava povar as horas intermináveis, ocupando meu espírito com outra coisa que não eu mesma, mas o mundo não me interessava mais."

-----------------------------------------------------

"A cada aniversário, quando acordo, levo um susto ao tomar consciência da data, embora há semanas saiba que ela está chegando. Empreendi uma contagem regressiva consciente, com a intenção de marcar esse dia para nunca, nunca esquecê-lo, para descascar, remoer, ruminar cada hora, cada segundo da cadeia de instantes que culminaram com o horror prolongado de meu interminável cativeiro."

Nenhum comentário:

Postar um comentário